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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Tem uma Anta no meio do caminho



*Por Jueli Cardoso


Em sociedade com alguns amigos, possuo um refúgio de campo na bacia  do Prata, próximo à pousada e à cachoeira do Ascânio. É um local de descanso e convívio com a natureza onde costumamos fazer longas caminhadas pela serra e ótimos banhos de cachoeiras. Águas boas e límpidas, cachoeiras, várias nascentes de veredas, que vão descendo e formando o Córrego que vai desaguar no Rio Escuro, somando-se ao Paracatu e formando as águas da bacia Sanfranciscana. Cerrados típicos e campos preservados fornecem um último refúgio a animais ameaçados.


No dia 23 de maio deste ano de 2014, caminhando na serra, às 8 horas da manhã, deparei com duas antas enormes atravessando a estrada logo a minha frente. Estavam transpondo o espigão entre as cabeceiras de duas nascentes. Tentei acionar a câmara do celular, mas não consegui a tempo. No outro dia estavamos eu e o Elsão caminhando um pouco abaixo, na mesma serra e nos deparamos com um caititu que estava correndo de um dos nossos cachorros (não caçador). Há meses atrás vimos um casal de veados e todos os dias ouvimos o canto das siriemas. Vestígios de tamanduás e lobos, encontramos sempre. Cobras raras como caninanas (papa-pinto) e muçaranas (cobra boa) são  vistas de vez em quando. Notícias de onças nas redondezas sempre são ouvidas. Isso mostra que ainda existe um bom nível de integridade ambiental na bacia.


Para a preservação do local criamos uma associação (AMPRA-Associação de Amigos e Produtores de Águas do Prata) que promove várias ações como monitoramento das águas, conscientização dos moradores quanto ao lixo, queimadas, desmates e caçadas. Em parceria com a Polícia Ambiental monitoramos a bacia principalmente alertando quanto aos desmates e repressão a caçadores.


Neste mesmo dia da visualização da anta fizemos uma vistoria na bacia, eu, o Helder, e um destacamento da Polícia Ambiental. Passamos pela maioria das propriedades para conhecerem as cachoeiras e verificarem os empreendimentos, aproveitando para orientar os moradores e avaliar a adequação ambiental do uso e preservação das nascentes. Essa visita adveio de uma notícia que tivemos de que alguns proprietários das lavouras acima das nascentes querem perfurar poços tubulares (artesianos), para montar irrigações com pivots centrais. Na propriedade onde se localiza o veio principal da nascente do Prata visitamos duas surgências, das cinco existentes no local, onde a água jorra em grande quantidade e com pressão que a faz elevar-se acima do solo. Momento raro de exemplo de pujança das águas.


Não constatamos a perfuração de poços nas lavouras e estamos buscando informações desses licenciamentos nos órgãos ambientais. Essa notícia nos preocupou muito tendo em vista que existência de poços tão perto das nascentes fatalmente vão causar impactos danosos à quantidade e à qualidade das águas do manancial.


Nas lavouras acima, de propriedade da PAUSA, descobrimos que no ponto em que houve uma recuperação de vegetação, onde haviam desmatado em Área de Preservação Permanente e o IEF, SEMEA e UnB fizeram um trabalho de replantio, foram novamente desmatadas as espécies ali replantadas. E mais preocupante ainda, foi a notícia que tivemos, informando que essa propriedade quer retirar a Reserva Legal, que se situa em uma área de várzea, continuidade do talvegue da nascente. Querem mudar a reserva para outra bacia e usar o local da reserva atual para a lavoura. Acontece que a reserva legal atual está apropriadamente localizada em uma área de recarga de águas da bacia. Ao ser retirada, pela nossa avaliação, arruinarão completamente as nascentes do Prata. Será um dano irreversível!


Então refletimos que parece haver uma hipnose nos donos do agronegócio, fazendo com que não vejam a verdade sobre os danos causados ao meio ambiente por essa atividade. Estão cegos e não visualizam o mal que estão fazendo com a degradação ambiental do desmatamento e com o uso de agrotóxicos. São umas “antas”!...Pensam apenas no dinheiro imediato que vão colocar no bolso. O ditado popular atribui o apelido de “anta” a uma pessoa ignorante ou mal intencionada. É verdade que faz uma má avaliação do animal, mas encaixa-se perfeitamente como qualificação àqueles empreendedores do agronegócio.  Muitas lutas nos esperam para retirar estas segundas “antas” do meio do caminho do ciclo das águas.


Vamos precisar de todo mundo!




*Jueli Cardoso é editor do Portal de Notícias Opção Popular - Engenheiro Civil - Especialista em Ecologia e Meio Ambiente – Atualmente está Cursando Eng. de Segurança do Trabalho


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