Escola Nichols de Meio Ambiente da Universidade de Duke (EUA)
Alguns moradores que vivem perto de poços de gás não convencional parecem estar correndo risco maior de contaminação da água potável por gases tóxicos, de acordo com um novo estudo liderado pela Universidade de Duke.
Um morador de Dimock, Pensilvânia, que não quis se identificar, enche um copo de água tirada de seu poço depois que começou a exploração de gás em 2009. Foto: Reuters.
Os cientistas analisaram 141 amostras de água potável de poços particulares de água encontrados em todo o nordeste da bacia de xisto Marcellus rica em gás, na Pensilvânia.
Eles descobriram que, em média, as concentrações de metano eram seis vezes maiores e as concentrações de etano 23 vezes maiores, em residências em um raio de um quilômetro de um poço de gás de xisto. O propano foi detectado em 10 amostras, todas elas retiradas de residências em um raio de um quilômetro da perfuração.
"Os dados sobre metano, etano e propano, e a nova evidência de presença de hidrocarbonetos e hélio, sugerem que a perfuração está afetando a água dos moradores," disse Robert B. Jackson, professor de ciências ambientais da Escola Nichols de Meio Ambiente da Universidade de Duke. "Em alguns casos o gás chega a se parecer muito com o gás de Marcellus, provavelmente devido à construção frágil do poço."
Os dados sobre o etano e o propano são "particularmente interessantes," observou "já que não existe nenhuma fonte biológica de etano e propano na região e o nível de ambas as substâncias no gás de Marcellus é alto e em maior concentração do que nos gases da camada devoniana" que reveste as formações do xisto de Marcellus.
Os cientistas examinaram quais fatores podem explicar os resultados que encontraram, inclusive a topografia, distância dos poços de gás e distância de características geológicas. "A distância dos poços de gás é, de longe, o fator mais significativo que influencia a presença dos gases na água potável que coletamos", disse Jackson.
A equipe publicou seus resultados esta semana na edição online Early Edition of the Proceedings of the National Academy of Sciences.
A extração de gás de xisto – um processo que inclui a perfuração horizontal e fraturação hidráulica – tem causado preocupação nos últimos anos devido à contaminação de fontes de água potável.
Dois estudos anteriores da Duke revelaram evidência direta de contaminação com metano em poços de água próximos de perfurações de gás de xisto no nordeste da Pensilvânia, assim como uma possível conectividade hidráulica entre aquíferos profundos e rasos de água salgada. Um terceiro estudo conduzido pelos cientistas da U.S. Geological Survey não revelou evidência entre contaminação de água potável e produção de gás no Arkansas. Nenhum dos estudos tinha encontrado evidência de contaminação por fluídos de fraturação hidráulica.
O novo estudo é o primeiro a oferecer evidência direta de contaminação com etano e propano.
"Nossos estudos demonstram que a integridade dos poços de gás, assim como as variações na geologia local e regional, são importantes fatores para determinar o possível risco dos impactos nos lençóis freáticos causados pelos empreendimentos de gás de xisto. Dessa forma, esses fatores devem ser levados em conta antes do início da perfuração," disse Avner Vengosh, professor de geoquímica e qualidade da água da Escola Nicholas.
"Os novos dados reforçam nossas observações anteriores de que gases fugidios contaminam poços de água potável em algumas áreas da bacia de Marcellus. A questão é o que está acontecendo nas outras bacias de xisto," disse Vengosh.
"Os dados sobre hélio deste estudo são os primeiros de um novo kit que estamos desenvolvendo para identificar a contaminação usando geoquímica de gases nobres," disse Thomas H. Darrah, cientista pesquisador em geologia, também da Escola Nicholas. "Essas novas ferramentas nos permitem identificar e rastrear contaminantes com um alto grau de certeza por meio de linhas múltiplas de evidência."
Os coautores do novo estudo são Nathaniel Warner, Adrian Down, Kaiguang Zhao e Jonathan Karr, todos da Duke; Robert Poreda da Universidade de Rochester; e
Stephen Osborn da Universidade Estadual Politécnica da Califórnia. A Escola Nichol de Meio Ambiente da Universidade de Duke e o Centro Duke sobre Mudança Global financiaram a pesquisa.
Stephen Osborn da Universidade Estadual Politécnica da Califórnia. A Escola Nichol de Meio Ambiente da Universidade de Duke e o Centro Duke sobre Mudança Global financiaram a pesquisa.
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