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sábado, 30 de setembro de 2017

Rio Paracatu - a expedição da esperança

Recordando os 30 anos do MOVER

O maior afluente do São Francisco ainda é gigante e maravilhoso

Fernanda Mann
21 de agosto de 2013 

DESAFIO O "Rio Bom" da Bacia Hidrográfica do São Francisco revela-se aos 40 navegantes que foram estudar suas águas - Fotos: Evandro Rodney
Sob o comando do experiente Norberto Antônio dos Santos, pescador, piloteiro e conhecedor profundo do Rio Paracatu, cerca de 40 pessoas partiram por suas águas. Era 31 de maio, e só agora saiu seu relatório que a ECOLÓGICO divulga com exclusividade.
Por dois dias, 220 km foram percorridos, num total de 20 horas de navegação. A expedição pelo Paracatu cumpriu seu objetivo, traçando por todo o percurso um diagnóstico visual das condições do curso d’água.

Os quinze barcos partiram do Rio Escuro no município de Vazante, no noroeste de Minas. O primeiro destino foi Brasilândia de Minas, na mesma região. No outro dia, seguiram viagem até o destino final, São Romão, às margens do Rio São Francisco, no Norte de Minas. Participaram da missão, membros do Comitê da Bacia Hidrográfica (CBH) do Rio Paracatu, técnicos do IGAM, vice-prefeitos de municípios da bacia do Paracatu, professores, biólogos, geólogos, o deputado estadual Almir Paracatu, um fotógrafo e um cinegrafista. Focados na observação, encontraram, além de grande beleza cênica, problemas que exigem soluções urgentes.
VEREDAS E NASCENTES
O Rio Paracatu contribui com 26% da água do São Francisco, sendo seu maior afluente. Equivale a 8% do território de toda a bacia e, mesmo assim, não possui estudos significativos. É o que afirma o presidente da ONG Movimento Verde e vice-presidente do CBH do Rio Paracatu, Antônio Eustáquio Vieira, conhecido como Tonhão. Existem estudos técnicos sobre a dimensão, localização, características e qualidade de suas águas, mas que não são suficientes para um empenho maior por sua preservação.
 À primeira vista, parece ser um rio em bom estado, mas em conversa com pescadores da região sobre a quantidade de peixes, ficou claro que houve redução expressiva. Um dos motivos é o desaparecimento das lagoas marginais, que foram drenadas por agricultores. As lagoas são utilizadas tanto para irrigar as plantações, quanto para cultivo nelas próprias, já que são áreas ricas em nutrientes. “Um dos impactos, por conta disso, é o uso de agrotóxico, contaminando o curso d’água. Mas, o principal efeito nocivo é a perda de sua função na reprodução dos peixes”, explica Tonhão. Essas áreas, que, antes serviam como “berçários”, quando extintas, não permitem que os peixes completem seu ciclo de vida.
Outra questão é a quantidade de águas. A primeira impressão é que há abundância. Mas um olhar mais atento revela a existência de apenas uma fina camada encobrindo os bancos de areia. Esses, inclusive, existem por, praticamente, toda a extensão do rio. É o que relata Tonhão. “Mesmo no período pós-chuvas, a navegação não foi fácil. Supõe-se que esses bancos sejam fruto da diminuição das enchentes e regularização do fluxo d’água, após a construção da barragem de Queimados para a geração de energia hidroelétrica. Isso faz com que o rio perca força para levar os sedimentos curso abaixo", explica.
O fato de as águas estarem diminuindo tão rapidamente, logo após o período chuvoso, indica que as nascentes e veredas não estão sustentando a bacia. Segundo Tonhão, o rio Paracatu perdeu 25% de sua vazão, nos últimos cinquenta anos. Isso ocorre porque as nascentes e veredas não estão cumprindo sua função de alimentá-lo. “Quando chove, ele enche, mas, com poucos dias, está com seu nível baixo novamente."
VIDA A fauna aquática e terrestre e a flora dependem da qualidade das águas do rio
ÁREAS DE RECARGA
Além delas, existem áreas de recarga do aquífero. São regiões cujo solo  favorecem a infiltração da chuva. É assim que as nascentes e veredas são abastecidas e, delas, a água segue para o rio. “O fato dessas áreas terem sido dizimadas, em grande escala, pela agricultura e pecuária, matou as nascentes. Quando chove, a água bate, lava tudo o que está na região e carrega para o rio. Por isso, ele está assoreado”, justifica o presidente da Movimento Verde.
Não existe um mapeamento destas áreas de recarga. Elas são muito específicas. Devido ao solo e à vegetação existente, agem como uma “esponja”, que infiltra a água, recarregando o lençol freático de onde segue para as nascentes.
Outra questão são as dragas que extraem areia do fundo do Paracatu. Segundo Tonhão, a priori, elas atuam de maneira mais adequada, uma vez que não foi observado nenhum retorno de água para o leito do rio, o que causa erosão nas margens. No entanto, estavam desligadas no momento em que a expedição passou, por conta de um feriado. “Entendemos que esta atuação criteriosa, se deve aos licenciamentos ambientais que orientam para estes procedimentos”, salienta.
DESAFIOS
Na região do município de Paracatu, principalmente na margem esquerda do rio, há uma grande quantidade de ranchos que invadem a Área de Preservação Permanente. Isso causa impactos com a queda de barrancos e construções de ancoradouros e embarcadouros. É verdade que, em geral, pode-se destacar uma exuberante mata ciliar (vegetação ribeirinha) por toda sua extensão. No entanto, essa constitui uma faixa muito estreita, que não contempla as dimensões necessárias à saúde do rio.
Tonhão explica que um cuidado relevante relaciona-se à gestão dos solos na bacia. Principalmente, as estradas rurais que, segundo ele, contribuem para mais de 70% da morte dos corpos d’água.
Todas essas questões, somadas às barragens e a outras intervenções, diminuem a vazão do rio e a força com que ele chega ao oceano. Assim, o São Francisco, que recebe as águas do Paracatu, chega com menor pressão ao oceano Atlântico. “Dizem que o Velho Chico, quando descoberto por Américo Vespúcio, em 1500, abastecia as embarcações com água doce, quatro quilômetros depois da foz. Hoje é o mar que invade o rio. Para se ter uma ideia, existe um peixe que vivia nesta área de encontro onde a água é meio doce, meio salobra, mas tem sido pescado há cerca de 150 quilômetros dentro do São Francisco”, conta Tonhão.
TONHÃO Ambientalista, conhecedor e defensor do rio
REVITALIZAÇÃO
Ainda assim, Tonhão que é biólogo e já desceu o Paracatu sete vezes, acredita que, se houver espaço para um diálogo com a sociedade, a situação será descomplicada. “Revitalizar é fazer com que os corpos d’água que abastecem o rio voltem a ter seu papel biológico natural, e isso depende da atuação das comunidades e do governo."
A expedição vai gerar uma revista informativa e um documentário que serão distribuídos por todas as escolas da região da bacia. As reuniões do CBH Paracatu são itinerantes e, por cada lugar que passam, exibem fotos do rio para receber alunos e moradores que serão convidados a conhecê-lo sob nova perspectiva.
O Parlamento do Rio
A analista ambiental do Instituto Mineiro de Gestão das Águas, (Igam) Sônia de Souza Lima, também presente na expedição, concorda que o mais importante é mobilizar a população. Para ela, um dos pontos altos da expedição foi o fato de os novos conselheiros do CBH terem participado. “O Comitê é o parlamento do rio. Agora eles o conhecem para defendê-lo”.
Sônia conta que os piloteiros dos 15 barcos, que participaram da descida, são pescadores e estão mobilizados pela causa.  “A gestão dos recursos hídricos deve ser participativa e descentralizada. Muitos moradores já são ativistas. Em Três Marias, por exemplo, eles se reúnem em mutirões de limpeza do rio, o que mostra consciência e empenho. Deveríamos fazer o mesmo em toda sua bacia. Para ela, o potencial turístico do rio e da região é uma boa ferramenta para sua preservação. Afinal, ela descreve: “o Paracatu ainda é gigante e maravilhoso”.

Saiba mais:
O RIO
Paracatu se encontra quase, totalmente, dentro de Minas Gerais, com pequenas áreas de topo adentrando Goiás e o Distrito Federal. Mais caudaloso afluente do Rio São Francisco, possui uns 300 quilômetros navegáveis, desde a sua foz até o extinto Porto Buriti. A partir desse ponto, encontram-se cerca de dez corredeiras e diversas cachoeiras.
 “Paracatu”, do tupi-guarani quer dizer “rio bom”. Sua bacia encontra-se sobre o bioma Cerrado, tendo como tipos de vegetação: Veredas, Cerradões, Campos Cerrados e Parque de Cerrado. Também estão presentes na sub-bacia, ecossistemas de mata fluvial ciliar e mata seca.

Saiba mais:
LAGOAS MARGINAIS, A ALMA DO RIO
Quando os peixes põem os ovos na água e os fecundados eclodem em pequenas larvas, estas procuram as lagoas marginais. Ali, onde o ambiente é mais calmo e a temperatura ideal, encontram fartura de alimentos e se desenvolvem até que venha a próxima chuva. As águas costumam cair um ano depois e os peixes, já grandinhos, são levados pela enchente de volta ao rio, onde dão continuidade ao ciclo.
Uma ideia interessante para proteção desse espaço vital, que alimenta e dá vida aos cursos d’água, seria criar Áreas de Preservação Permanente, onde as lagoas marginais ficassem preservadas. Já existem casos de sucesso, de iniciativas parecidas, como o Projeto Recifes Costeiros, que, em parceria com pescadores e a comunidade local, protegem as áreas onde existem muitos recifes e corais. Assim como as lagoas marginais, estes são locais de reprodução essenciais à manutenção da fauna aquática.
Segundo Tonhão, a ideia é criar um projeto dentro do rio Paracatu, onde há mais lagoas preservadas, resguardando-as da pesca, da agricultura e da pecuária. Ele afirma que muitos produtores e moradores se mostraram favoráveis ao projeto e prontos a colaborar. “Falta, agora, um passo concreto do IBAMA em nos apoiar e aí, sim, firmarmos um pacto entre os pescadores e produtores, para que a área fique intocada”, explica.

CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO MUNICÍPIO EM TEMPO REAL

CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO MUNICÍPIO EM TEMPO REAL
SISTEMA INTEGRADO DE DADOS AMBIENTAIS